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terça-feira, 14 de setembro de 2010

Amor

O AMOR NO TERCEIRO MILENIO
1.       Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o início deste milênio. As relações afetivas também estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor. O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar. A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossas felicidades, que nasceu com o romantismo, está fadada a desaparecer neste início do século.
2.       O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Ela abandona suas características para se amalgamar ao projeto masculino. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher.
3.       A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal. A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente. Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas.
4.       Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa alguma. É apenas um companheiro de viagem. O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria, ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral. A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa a aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades.
5.       E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são ótimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Viver sozinho é um bom estágio para dar início a uma relação madura. Pode ser que a pessoa goste tanto dessa condição que decida não investir mais em relacionamentos. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém.
6.       Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não a partir do outro. Ao perceber isso, ele se toma menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.
7.       Em geral, pessoas com 'boa dose de auto-estima' costumam ser egoístas. E pessoas com baixa auto-estima tendem a ser generosas. As duas posturas derivam da imaturidade emocional, portanto não são adequadas. O generoso não é nenhum bonzinho. Ele dá mais do que recebe, mas cobra por isso. O egoísta não tolera frustrações e contrariedades. Se o egoísta tenta dominar pela intimidação, o generoso tenta dominar pela competência. Isso forma uma trama diabólica que se perpetua ao longo das histórias de gerações. A sociedade criou o individualismo para acabar com a dualidade egoísmo-generosidade. Esse novo contexto vai formar o justo, que é o indivíduo que dá e recebe na mesma medida. Ele troca, não dá com o intuito de dominar, nem recebe de uma forma parasítica.
8.       O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo... A pior solidão é aquela que se sente quando acompanhado.

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